O mergulho ao mar de Mika Andrade

 Mika Andrade
(1990-)

"mergulho num mar/de memórias/submersas/em busca de/origens afogadas/desse naufrágio/que parece irreversível/não encontro meus pares/a nadarem para a praia/vejo minha face perdida/e mais nada"

- busca


Mika Andrade nasceu em Quixeramobim, em 1990, reside em Fortaleza desde os quatro anos de idade. Publicou dois livros de forma independente: Descompasso e Poemas Obsessivos; organizou a antologia erótica de poetas cearenses O Olho de Lilith. Tem seus textos publicados em sites, zines e antologias.

“Escrevo sobre o que me atravessa da literatura marginal à erótica. Pra ter voz e para desabafar sobre o que me angustia. Minha voz é o registro das minhas experiências, das situações que me atravessam. Falo pouco, então escrevo. Publico poemas no Instagram e textos mais longos no meu blog. Estou em dois coletivos, Bora Cronicar e Pretarau, e tenho publicações também em portais de literatura, zines e antologias. Sou autora das zines Alguns Versos Pervertidos e Outros Indecorosos e Devoção e de dois livros de poemas. No ano passado saiu O Olho de Lilith, uma antologia de poemas eróticos escritos por poetas cearenses organizada por mim. 

A gente é negligenciado pelo Estado. Tem que resistir e passar por cima do sistema idealizado e programado para nos esmagar. Tem que confrontar o restante da sociedade e a violência institucionalizada por ela. É preciso se impor diariamente e mostrar o significado da nossa existência, e isso faço com a literatura. Minha escrita é o lar dos abandonados, dos esquecidos. Agora e sempre. Minha vontade é que nossa trajetória seja contada nas escolas como forma de ensino e inspiração para as garotas, que autoras negras e periféricas como Carolina Maria de Jesus se tornem referências e sejam estudadas e admiradas. Que a gente tenha nosso trabalho reconhecido e pago, pois só visibilidade não paga conta e nem mata fome de ninguém”.

Mika diz que é muito difícil fazer literatura erótica sem escorregar no mau gosto e na pornografia barata; muitos escritos do gênero acabam parecendo material digno de revistinha de banca de jornal. Em seu primeiro livro, Descompasso (Independente), consegue oferecer uma poesia erótica inspirada, sensual, carregada de simbolismos femininos, algumas vezes até mordaz. Mas não se restringe a isso.

Na poética de Mikaelly há a forte presença das imagens do corpo, da boca, do material, do físico. Também da voz e do estremecimento. 

Na primeira parte, intitulada “Palavra”, os poemas versam sobre sentimentos. Há muita desilusão, muito sufoco, muita resignação. A imagem que transmitem é de alguém que se mostra controlada por fora quando interiormente vive um turbilhão de medo, dúvida, insegurança e de amor.

Já na segunda parte, “Corpo”, os poemas celebram o prazer e o gozo feminino, sem vergonha e sem culpa. Tratam do êxtase quase com reverência, mas não se restringem somente à celebração e procuram lembrar que nos jogos eróticos muitas vezes as mulheres ainda são vistas como acessórios para o prazer masculino.

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