A transmitológica e poética Kika Sena


Kika Sena
(1994-)

"não fosse o sol/ainda assim seria preta/não fosse o café/ainda assim seria preta/a sua cor ainda seria preta/cá regada de graça/não fosse o tempo/exposta à exploração/ainda assim seria forte/não fosse o tempo/de gritos de dor/ainda assim seria bicha/não fosse a imensa falta de amor/ainda assim sereia seria:/uma linda bicha preta/carregada de graça"

Kika Sena é arte-educadora, diretora teatral, atriz, poeta e performer residente em Rio Branco, no Acre. Licenciada em artes cênicas pela Universidade de Brasília (UnB), é pesquisadora nas áreas de gênero, sexualidade, raça e classe.  Desde 2015, desenvolve pesquisas relacionadas à voz e à palavra em performance com cunho político referente ao corpo da mulher trans e travesti na cena teatral e social. Em 2017 lançou Periférica, pela Padê Editorial, livro antecedido por marítima (2016), publicação independente. Sua produção mais recente, também de forma independente, é a zine subterrânea (2019). Ainda em 2019 dirigiu o espetáculo Transmitologia, no Distrito Federal. 

Como reação à dor, mas também afirmação da re-existência pelo afeto, a palavra poética de Kika, dentre outras potências, elabora, por um lado, um canto-denúncia, que traz à tona da discursividade literária nacional uma entranhada tessitura de violências que atravessam e ameaçam constantemente a vida de mulheres trans-pretas-periféricas no Brasil; por outro, de mãos dadas com bichas irmãs e encantadas sagradas, fabula um canto-ancestral enraizado na força do mangue, pertencimento que aflui da reminiscência de que “a história da gente não morreu jogada no mar”. “O corpo da travesti preta é político, mas ele pode ser poético?” Eis a inquirição lançada por Kika Sena em uma de suas entrevistas e desdobrada como investigação estética no livro de poemas Periférica.

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